sexta-feira, 23 de março de 2012

Aula do dia 22 Mar, Prof. Alexandre Mérida, As Invasões Bárbaras do Século V





Da apostila referente ao livro de Maria Sonsoles Guerras, "Os Povos Bárbaros", a resenha para o grupo de estudo da sexta-feira, 23 mar 2012 - última aula antes da P1. Vamos lá, galera! Tutano, já!









GUERRAS, Maria Sonsoles, Professora-Adjunta de História da UFRJ.


OS POVOS BÁRBAROS, Rio de Janeiro: Editora Ática, 1987, cap.2, 3 e 5.


Resenhado por: Jorge Luiz da Silva Alves, terceiro período de História, UCAM/Santa Cruz.


No capítulo 2 (Os “Bárbaros Germânicos”), registra-se que os romanos desconheciam, até fins do século IV a.C., tudo sobre os germânicos; viviam estes à retaguarda dos Celtas, seus inimigos fidagais, que ocupavam as terras fronteriças ao que hoje chamamos de França, Bélgica e Alemanha. Tanto que usavam as denominações 'celta' e 'galo' para quaisquer povos que habitassem o centro e o norte do continente. A origem real dos germanos é incerta: a mais aceita é que suas origens estejam ligadas às costas do Mar Báltico, entre a Escandinávia e o que hoje seria a Polônia e Lituânia.

Tácito, no século I da nossa era, faz o primeiro registro destes povos com fontes contemporâneas, o que permite-nos traçar, neste capítulo 3 (A Civilização dos “Bárbaros”) um quadro relativamente compreensível do que seriam aqueles povos. Os germanos desconheciam Estado e Cidade; suas vidas eram centradas nas comunidades (tribo, família, clã). Sippe significava uma comunidade de linhagem que assegurava a proteção às pessoas sob sua autoridade. Sociedade patriarcal, o pai era inquestionável na família, a mulher era a guardiã da pureza e sua infidelidade era castigada com o repúdio ou a morte; as filhas passavam da autoridade paterna para a do marido através da venda e em troca de um dote; a solidariedade familiar era também comprovada pelo pagamento das dívidas, liquidação do wergeld (preço do sangue) ou compensação pecuniária – quando criminosos - , e vingança, através da guerra privada – quando eram vítimas.

O elemento fundamental da sociedade eram os homens livres, os guerreiros, cuja morte implicava uma indenização elevada. Tinham o direito de expôr suas idéias nas assembléias. Logo abaixo, os semilivres, oriundos dos povos vencidos. Por último, os escravos: cativos das guerras ou devedores insolventes, que estavam ligados à cultura do solo. A guerra era a razão de ser dos germanos, que devia sempre estar pronto para qualquer ataque. A organização dos exércitos germanos descansava no serviço de todos os homens livres em estado de combater, equipar e alimentar-se. A metalurgia das armas era a principal e mais nobre atividade germânica. Os chefes e seus jovens companheiros eram organizados para o combate por tribos. O mando estava nas mãos de chefes hereditários ou ricos, que se achavam à frente de um importante comitatus. O enriquecimento dos chefes favorecera sua transformação em proprietários, e, deste setor, surgiram os dirigentes políticos das tribos – desta pseudonobreza gerou-se o embrião dos cheges militares da época vindoura. Em tempos de paz, os poderosos só possuíam o poder daqueles que fossem-lhes fiéis e ao alcance de sua influência social. O verdadeiro poder deste período estava nas mãos da assembléia local dos homens (mallus), que celebrava-se periodicamente, ao ar livre. Nos tempos de guerra, os chefes gereditários ou escolhidos (duces) tinham um poder quase absoluto, exceto no que diz respeito aos direitos elementares, como o botim.

No que concerne às atividades econômicas, os germanos possuíam uma particularidade: embora circulassem moedas romanas e de outros povos na Germânia e na Escandinávia, elas não eram utilizadas para troca; o escambo realizava-se ainda com o gado, argolas ou barras de metal precioso. A região continuava refratária à vida urbana. A metalurgia ocupava lugar de destaque na economia, por causa do mister da guerra. Seu artesanato era modesto, mas a ourivesaria destacava-se pelo seu caráter decorativo, sobretudo com representações zoomórficas ou de batalha. Viviam da pecuária (bois, cavalos e ovelhas), agricultura, pesca e caça. O rebanho era uma especié de bem comunal e pastava na terra em pousio. Instalavam-se em clareiras por alguns anos e, esgotadas as terras, procuravam novas. Há quem considere este seminomadismo como um motivo do fracasso germânico na constituição dum estado estável. Eles utilizavam prisioneiros de guerra para o cultivo do solo, transformando-os em escravos ou semilivres. Somente homens livres possuíam a terra, mas esta era explorada coletivamente.

Provavelmente, não havia uma unidade religiosa entre os povos germânicos. Já no século I a.C., César mostrava a diferença entre gauleses (celtas) e os germanos na existência dum corpo sacerdotal . Os gauleses possuíam os druidas, enquanto os germânicos dispunham dos pais de família ou chefes de tribo quando das assembléias ou libações rituais de vinho. As mulheres destacavam-se como profetisas ou mágicas. Não haviam templos, os rituais ocorriam nos bosques sagrados, picos de montanhas ou próximos de fontes ou árvores, em certa data (solstícios, lua nova). Eram comuns os sacrifícios de animais ou humanos. Adoravam a natureza e suas forças; o espírito belicista deste povo reproduzia em suas manifestações religiosas, o caráter combativo de suas origens: Wotan(Odin), presidia o comércio, as tempestades e os combates; Tiwaz, dirigia o céu e presidia as assembléias; Donnar ou Thor, senhor dos raios e invocado antes de qualquer guerra; Freya, deusa do amor e do fogo.

Toda e qualquer manifestação artística dos povos germânicos ressaltavam seu espítito guerreiro. Durante os banquetes, cantores entoavam loas aos heróis germânicos, sempre algum deles descendente de um personagem divino. Cada tribo ou clã tinha sua saga, fazia-se uma recordação gloriosa dos antepassados.


No Capítulo 5, entramos no derradeiro momento em que Roma esfarelava-se sobre seus excessos e gigantismos e, impossibilitada de se manter, principia sua queda justamente no contato mais direto e dramático com esses povos germânicos que, no século IV, já se espraiam sobre as fronteiras imperiais (As Grandes Invasões Germânicas). A partir da pressão dos hunos sobre os estabelecimentos godos entre o rio Don e o Danúbio no fim deste século, acontece uma penetração a princípio pacífica para dentro das fronteiras imperiais; os ostrogodos, quase todos dispersados ou subjugados pelos hunos, juntam-se aos também expulsos visigodos, que pediram asilo ao imperador romano-oriental Valente. Este alojou-os na Trácia, onde os romanos exploraram sua miséria, abusavam deles de todas as formas. Revoltados, ergueram-se em armas na batalha de Adrianópolis (378), vencendo os romanos e matando, inclusive, o imperador. Mas estes bárbaros não tencionavam fazer uma guerra de conquista, e sim lutavam para sobreviver condignamente.

Teodósio, novo imperador do Oriente, decidiu aceitar os visigodos de forma pacífica como federados (fœdus), em 382. Tencionava, com isso, resgatar um pouco da força militar romana com o substrato bárbaro mas temia, também, que eles se insurgissem no seio do estado romano, uma vez que seus costumes e direitos seriam respeitados pelos anfitriões. Diferentes de outros bárbaros assentados em várias partes do império, os visigodos tinham ciência de sua força e da debilidade romana principalmente após Adranópolis. O filogoticismo do imperador facilitou o acesso desses homens enérgicos e militarmente capazes em altos postos do império, o que melindrou parcelas importantes do povo romano do Oriente. Mas Teodósio conseguiu dominar seus competidores no Ocidente (Eugênio) e unificar o império pela última vez, ainda que a fidelidade germânica fosse dirigida a Teodósio, e não à instituição Império Romano. Quando Teodósio faleceu, os problemas com os godos retornaram, bem maiores. A certa altura, generais bárbaros eram eminências pardas na administração do governo, o que descontentou sobremaneira membros do patriciado imperial. Em 400, no reinado de Arcádio, foram assassinados vários auxiliares godos. Com isso, o acordo entre eles e o Império do Oriente fora rompido; e Alarico, chefe godo, iniciou uma série de incursões, obrigando o governo a pagar vultosa quantia para afastá-los de Constantinopla.

Se, por um lado, a presença destas eminências bárbaras no Império contribuiam para arrefecer o vigor gótico (Estilicão foi um desses eminentes, nos contatos com Alarico), por outro lado, a política de retirar tropas de um ponto da fronteira para outro a fim de combater incursões germânicas só facilitou ainda mais a desagregação do lado ocidental do Império Romano. A Gália ficou exposta ao saque de várias etnias bárbaras, assim como a Espanha; Estilicão só possuía forças para defender a Itália e, para piorar, o antigermanismo aliado às intrigas palacianas acabaram por decretar a morte de Estilicão. Alarico, então, invadiu a indefesa Itália, fez uma série de exigências, obteve resultados em algumas mas, em outras, fora logrado. Com isso, em 24 de agosto de 410, a Cidade Eterna, mais de mil e tantos anos invictam fora humilhantemente saqueada. O chefe bárbaro, entretanto, poupou os templos cristãos e todos que neles estivessem.

E enquanto Alarico espraiava-se pela Itália (morrendo logo a seguir ao saque) e os visigodos elegiam outro chefe (Ataulfo) para continuar devastando o império pela orla mediterrânea, Roma se deu conta da urgência (e gravidade) da presença bárbara em seu território, o quanto deles necessitavam. E a regra do jogo mudou: antes, os bárbaros pagavam para viver e retirar víveres dos armazéns militares romanos; e com os novos federados a terra e seus meios de exploração era divididos em regime de “hospitalidade”. Embora não aceitassem a nova realidade naqueles séculos V e VI, o fato é que o domínio romano sobre seu próprio chão era, a cada dia, mais efêmero, ilusório. Mesmo com arremedos de soberania e um pouco de vigor- como na aliança com vários povos bárbaros comandados pelo romano Aécio para deter o huno Átila na Gália – o desmembramento do Império do Ocidente entre as várias etnias bárbaro-federadas era irreversível.




Referências:

FOURNIER, Gabriel. L'Occident de la fin du V siécle a la fin du IX siécle. Paris, Armand Colin, 1970 (Série Histoire Mediévale, dir. Georges Duby.)

LOT , Ferdinand. O fim do mundo antigo e o princípio da Idade Média. Lisboa, Ed. 70, 1980.

3 comentários:

  1. Vlw Jorge. Hoje não vai dar pra eu ir de novo... sem "pila". Até eu arrumar uma farpela vai ser assim. Mas eu não saí do grupo viu? Peço só um pouco de paciência nessa minha fase de transição.

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  2. EI! NÃO TÔ NA FOTO! Mas tb, quem fotografa nunca aparece né? #chorei

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    1. Calma, querida! No próximo texto, estaremos juntos. Esse é o NOSSO blog, Monny bacana!

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